terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Fundamentos Pedagógicos do Hipertexto

    A prática pedagógica se realiza na comunicação entre os atores evolvidos no processo educativo. Sendo assim, a reflexão filosófica que se faz sobre a prática pedagógica se fundamenta na esfera da comunicação. Com o advento das novas mídias, como a Internet, houve uma grande mudança de paradigma no modelo de comunicação que recai principalmente sobre a autonomia do sujeito comunicativo. Esse novo paradigma trouxe um desafio para a prática educativa no sentido de repensar todo o processo pedagógico com vistas a conviver com o novo sujeito de aprendizagem que ganhou autonomia comunicativa através da rede Internet.

    Dentro desse contexto, surgiu uma nova temática de debate entre os educadores, a educação hipertextual. O conceito de hipertexto está ligado à esfera da comunicação, pois segundo Ângela Correia (2003) se fundamenta em quatro conceitos comunicacionais: não linearidade, intertextualidade, interatividade e heterogeneidade. Esses quatros conceitos se aplicam em qualquer ato comunicacional, entretanto com maior potência quando se trata da rede Internet.

    Nesse ponto, cabe apresentar os fundamentos dos quatros conceitos do hipertexto aplicado à rede Internet enquanto espaço de mediação pedagógica para ensino online. Esses fundamentos servem para avaliar a comunicação pedagógica dos componentes comunicativos de um site de EAD.

    O primeiro fundamento do hipertexto é a não linearidade. É o percurso que o sujeito de aprendizagem constrói. Não se trata de rotas pré-definidas que condicionem a caminhada, mas sim a possibilidade do exercício da autonomia na construção da rota.

Essa concepção se aplica na mídia Internet através do recurso hiperlinks. Link é o elo que se faz entre as páginas. A vantagem é que possibilita uma navegação não linear, ou seja, constrói uma rede descentralizada, descontínua e desprovida de um pólo inicial e final. Como a Internet é a maior rede de comunicação mundial, no ângulo pedagógico é tida como a maior biblioteca do mundo. O hiperlink é um recurso de navegação que possibilita ao sujeito de aprendizagem navegar nessa biblioteca, construindo sua própria rota.

    A intertextualidade parte do pressuposto de que o sentido da leitura é construído pelo sujeito. Essa leitura se faz em correlação com as leituras e experiências anteriores. Isso significa que há uma multiplicidade de leituras que se confrontam e interagem. A Internet é um espaço que favorece a intertextualidade na medida em que oferece ao sujeito, no mesmo suporte, várias outras leituras e diversidade temática. No espaço de ensino online, a intertextualidade pode ser potencializada na medida em que os sujeitos de aprendizagem possam confrontar e interagir suas leituras com a dos outros sujeitos participantes.

    Já a interatividade é a manifestação da intertextualidade. O sujeito de aprendizagem, ao efetuar uma nova leitura, pode modificar e intervir em outros textos, tornando-se um co-autor. A possibilidade de intervir no conteúdo e na temática torna a Internet uma interface de comunicação descentralizada, facultando ao sujeito comunicativo exercer o papel de emissor e receptor. 
Marco Silva (2001) aprofunda mais o conceito de interatividade. Ele aponta três características que fundamentam a comunicação interativa: participação e intervenção, bidirecionalidade-hibridadação e permutabilidade-potencialidade. A primeira é a participação e  intervenção na mensagem.  Em um processo de comunicação,  nenhum dos sujeitos devem restringir suas ações em apenas   dizer sim ou não, ou então escolher entre um conjunto de opções dados. Isso não caracteriza nenhuma participação e muito menos uma intervenção, o que se efetiva ao desempenhar um papel ativo para modificar o conteúdo e o processo de comunicação. A intervenção não deve restringir apenas a um dos sujeitos. Tem que ser bidirecional.  Isso garante que a mensagem construída no processo seja o resultado de co-autoria de todos os sujeitos envolvidos na comunicação. A permutabilidade-potencialidade se refere a liberdade de manipulação  de   cada  sujeito  no  sentido mudar   e   recriar,   fazendo   combinação   de  várias possibilidades numa dinâmica aleatória e não seqüencial.

 O espaço de ensino online  que possibilita ao sujeito de aprendizagem exercer a interatividade acaba criando uma rede de aprendizagem colaborativa. Isso significa que a rede de aprendizagem resulta da participação ativa de todos os sujeitos envolvidos, ou seja, quebra o paradigma de haver um centro controlador que de modo unilateral fornece a temática e determina o ritmo do processo de ensino e aprendizagem.

    Em suma, a interatividade não se trata de animação gráfica que enche os olhos de quem contempla, mas sim de movimento e ações epistemológicos protagonizadas pelo sujeito cognitivo.

     Por último, a heterogeneidade enquanto fundamento da comunicação hipertextual se refere à multiplicidade de linguagens que pode estar presente no mesmo suporte eletrônico. Um arquivo eletrônico em formato hipertexto pode comportar as seguintes linguagens: texto, imagem, som e vídeo.  Cada linguagem tem um efeito cognitivo diferenciado no processo de aprendizagem. Explorar esse recurso em um espaço de ensino online reforça o processo de aprendizagem.  

    Os quatros fundamentos comunicacionais do hipertexto marcam o novo paradigma da educação online. Sendo assim, a qualidade pedagógica de um site de EAD pode ser mapeada com esses fundamentos. 

Referência Bibliográfica

CORREIA, Ângela Alves. Educação Hipertextual: Diversidade e Interação como Materiais Didáticos. in MORAES, Raquel de Almeida (org). Linguagem e interatividade na educação a distância. RJ: DP&A Ed., 2003

MONIZ, Lino Vaz.  Amílcar Cabral e Pulo Freire na era da Tecnologia Digital. BSB: UnB, 2004. Dissertação de Mestrado. 

SILVA, Marco. Sala de Aula Interativa. RJ: Quarter, 2001.

2 comentários: